19/01/2008

Dizem-me para escrever

E eu penso, o quê? E depois reparo que aquilo que para mim já não é novidade, que faz parte do dia a dia, é novidade para os outros, para os meus tugas! Será este o sinal de que estou a adaptar-me? Ou é apenas um fenómeno do ser humano que se habitua rapidamente ao que é novo?

Já não me espanta vê-los por aí à chuva de bicla, com os moços encapotados num casaco e no assento traseiro, embora ainda me espante o facto de eu própria já pegar na bicicleta para ir às compras, de mochila às costas! :) O que ainda só aconteceu uma vez, mas já é uma grande evolução... o carro ficou parado à porta de casa e lá fui de bicicleta! A viagem correu bem, só não coloquei o cadeado como deveria, pormenores de aprendiz, claro! O que vale é que ninguém se interessa por bicicletas pequenas!

Já não me faz diferença não beber o expresso matinal e este ter sido substituído por uma caneca cheia de água escura com sabor a café; já como a sandes ao almoço e o estomâgo considera normal; janto às sete da tarde e se for mais cedo, nem se nota a diferença; já conheço os pratos típicos (embora deixe a tarefa de os cozinhar para o loiro) e gosto daquilo a que sabem; só continuo a reclamar a ausência de peixe, de bom peixe!

Já conduzo por aí com a mesma segurança que conduzo em terras lusas (ou seja, as bicicletas passaram a ser secundárias e quando se atravessam à minha frente, passam se eu deixar! Às vezes não é bem assim, mas enfim); já oiço a radio cá do sítio, o que ajuda a desenvolver expressões que nada dizem mas que são importantes para a conversa diária; já vou às compras sozinha e consigo desenrascar-me em holandês (ou susanês!!! e quando vejo a cara das balconistas a mudar de figura, salto imediatamente para o inglês, pois já me bastam as confusões que não posso evitar); vou de comboio para Amesterdão e compreendo a sinalética....

Ou seja, ao fim destes quase cinco meses existem progressos, mas a frustração ainda não me abandonou, o sentimento de que estou com um pé aqui e outro acolá ainda está presente, a contradição de sentimentos deixou de ser uma constante mas há mais pequena coisa, aparece! E um certo cansaço de ter voltado a ser estrangeira e de ter de compreender e aceitar o que me rodeia... (e eu que sempre achei que tinha feitio para ser estrangeira!)

Às vezes, viajo para longe, para a pátria de crescimento, Cabo Verde. Não é preciso muito para me transportar para lá, o rufar ocasional de uns tambores, este não sei quê que nunca mais me abandonou, e lá estou eu de volta a casa... Sempre pensei que esta adaptação fosse facilitada pela experiência anterior, mas não! Lida-se melhor com as saudades, sabemos que são temporárias e que fazem parte de tudo, sabemos que os nossos estão connosco o tempo todo; sabemos que o regresso à casa mãe há-de acontecer mais dia menos dia, mesmo que seja só de férias. No entanto, descobri nesta vivência holandesa uma frustração há muito esquecida, esta necessidade constante de provar a mim e aos outros de que sou capaz, sou capaz de aprender a língua, sou capaz de me adaptar aos costumes, sou até capaz de esquecer que por alma sou professora e que agora sou apenas dona-de-casa em adaptação e aprendizagem... É esta frustração que me faz desejar voltar ao canto seguro (onde tudo está mais que adquirido, acho eu), é esta frustração (que acompanhada do céu cinzento) não me deixa manter a boa disposição que redescobri em terras lusas... É com esta frustração que tenho de aprender, nem eu sei bem como...

E a ver se em breve coloco aqui qualquer coisa sobre a aventura de alugar uma casa nestas terras... se calhar é amanhã que temos sorte...

Ah, já agora, Portugal voltou a ser notícia. É verdade! E em anúncio televisivo na hora nobre. Não, não é porque é altura de decidir as férias, é porque andamos a maltratar macacos e aqui lançou-se um pedido de ajuda, para os conseguir recuperar e tratar em Espanha!

1 comentário:

Gosto design lifestyle disse...

ola susan,

muito obrigada pelo teu comentario tao simpatico! nos mudamos mas nao para longe. houve a necessidade de mudar de nome e local (virtual), mas o conteudo o mesmo! Espero que nso continues a seguir!

Os votos de boas festas!

Sonia